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Conto - O padre e o exorcismo

Atualizado: há 4 dias

Aproveitando a data de hoje, decidi finalmente publicar alguns dos meus contos. Sendo algo que eu queria muito começar a fazer aqui no blog. Hehe


Como escrevo mais de um gênero, e terror/horror é um dos que mais gosto de me aventurar, decidi mostrar um deles aqui para vocês.


Eu escrevi ele há uns três anos, então dei uma alterada em algumas coisas que achei que ia melhorar na história.


Espero que gostem! ;)


PS: Aguardem que em outubro terão mais contos, afinal é o Mês das Bruxas. ♥



O jovem padre entrou na igreja. As mãos cobertas de sangue e o terço pendurado na boca. Arrastou-se com os pés inertes até o banco mais próximo. 

Ele não aguentou. Ajoelhou-se e gritou aos montes um único uivo de lamúria. As janelas da catedral gemeram em transe, rebatidas pelos ventos, à medida que o homem sofria. 

O terço, agora caído pelo berro, era branco como os azulejos. A cruz estava pela metade, coberta de farpas e desgastes. Eis que Douglas, finalmente sente a ardência nos lábios. Com pressa, tenta arrancar os pequenos fios de madeira da pele. Tremendo os braços e os dedos de nervoso, mas conseguindo fazer o processo. 

Suas vestes pareciam assombrosas. A bata cor de creme que usava, contrastando sua pele negra retinta, estava manchada de terra e sangue, piche de estrada e cortes profundos. 

Quando terminou de tirar as farpas, uniu forças entre as pernas e cambaleou, se sentando no assento.

Todo o evento abalava a fé dele. 

– Seria possível tal ser entre nós? – ele dizia baixo. E mais baixo... – As duas detetives seguraram ela e a amarraram de novo. E de novo… e de novo… e esse vai e vem ficou exaustivo. A mulher riu da tentativa de exorcismo! Eu mal terminava as primeiras palavras e em um segundo…

– Padre Douglas? Você está bem? – perguntou uma mulher negra, que se aproximava dele.

Ele acenou; só conseguia fazer isso. Amaya estava de pé à sua frente e a outra detetive, Daiana, também uma moça negra, havia sentado ao seu lado.

– Aquele espírito é único. – respondeu o padre, sentindo os olhares curiosos das policiais.


Estava óbvio que ele não podia revelar a elas, a segunda alma viva que enxergou dentro daquele corpo durante o ritual, e que, aparentemente, não poderia mais ter algo em vida. Depois das brigas e tiros soltos sobre o então cadáver, ainda restava a verdadeira dona daquela casca. Tomada por uma aura vingativa, nada demoníaca ou diabólica, mas sim uma entidade sobrenatural. Um ser perene que se apossa de culpa, mentiras e ações graves.

–  Mesmo que a moça tenha matado para sobreviver a uma violência, aquele ser não poderia tê-la poupado? – soltou Douglas reflexivo, olhando fixamente para Amaya.

– Não é assim que eles pensam. – expressou ela com amargo na voz.

– São seres sencientes… sentem os erros, tomam essas memórias de uma forma invasiva. Te julgam e te condenam sem direito a perdão – explicou Daiana com calma, embora seu rosto expressasse tristeza. 

– E de onde será que veio? – a pergunta saiu sem firmeza pelo padre.


Sabia que a cidade onde moravam se inundava de criaturas e seres que fugiam do ordinário comum, até mesmo para as mais conhecidas formas. 

– Ainda não sabemos. Estamos investigando. A única conexão é a data e o dia: sexta-feira, 13. – respondeu Amaya

O padre lembrou-se disso. As detetives se entreolharam, ainda preocupadas com ele.

– Preciso urgentemente da unção… – pensou Douglas em voz alta. – Só assim posso ser franco comigo mesmo.


Despediu-se logo. As detetives ainda sentiam culpa, saindo da igreja. 

Padre Douglas andou até a frente e subiu os degraus próximo ao altar. Virou para trás, já próximo a Inri e falou:

– Fortaleça-se o perdão! No que rege a ação da humanidade, que haja mais compaixão daqueles que não pertençam a esse mundo… Pois noites assim, serão carregadas de sofrimento.


E então, o sino tocou…

A madrugada de sábado, dia 14, se instalou. 

O pregador fez o sinal da cruz, olhando para o alto e sorrindo, aliviado do fim. Caminhando lento, até a sacristia.


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